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Hoje finalizaremos o assunto “Exercício em jejum”, com a terceira parte do texto elaborado pela Professora Fabiana Benatti, PhD, consultora científica do site Ciência in Forma, a respeito do efeito da prática de exercícios físicos em jejum sobre o desempenho:

Muitas pessoas acreditam que fazer exercicio em jejum prejudica o desempenho. Verdade ou mito?

Primeiramente, deve-se ressaltar que a grande maioria dos estudos que avaliaram os efeitos agudos do jejum sobre o desempenho o fez em resposta a períodos bastante prolongados de jejum (24 h a 3,5 dias). Muitos destes estudos observam prejuízos claros na capacidade fisica, isto é, capacidade de sustentar determinado exercício até a exaustão após jejuns prolongados, tanto em exercícios de intensidade moderada a alta (por exemplo, 80% do VO2max) como de intensidade máxima (100% do VO2max). Curiosamente, um estudo realizado com oito participantes submetidos a 3,5 dias de jejum não relatou piora na força máxima, capacidade anaeróbia ou capacidade aeróbia (intensidade leve – 45% do VO2max), embora tenha observado diminuição da resistência de forca em resposta ao jejum. 

Dessa forma, parece claro que o desempenho em exercícios aeróbios de longa duração (por exemplo, corrida, ciclismo, etc) realizados em intensidade moderada a alta é prejudicado por períodos de jejum superiores a 24 h. 

Contudo, na prática, o jejum a que comumente nos submetemos todos os dias, é aquele que chamamos de “jejum overnight”, ou seja, durante a noite, com duração de 8 a 12 h.  Infelizmente, pouquíssimos são os estudos que tiveram como objetivo avaliar o desempenho em resposta a períodos mais curtos de jejum. Aqueles que o fizeram, parecem não observar quaisquer alterações na capacidade aeróbia (em intensidade moderada a alta), mesmo em atividades prolongadas (> 90 min de duração). 

Há ainda diversos estudos realizados com atletas muçulmanos durante o período do Ramadan, quando estes não podem ingerir qualquer alimento sólido ou líquido (nem mesmo água) durante o dia e, por isso, muitas vezes são obrigados a treinar ou competir em jejum. Estes atletas apresentam ainda importante alteração do padrão de sono, uma vez que precisam consumir alimentos durante a noite, a qual pode exercer efeitos negativos no desempenho. Apesar disso, os estudos mostram manutenção do desempenho em exercícios aeróbios, anaeróbios e de forca, e alguns poucos estudos mostram modesta diminuição do desempenho em exercícios anaeróbios repetitivos (por exemplo, sprints consecutivos de 30 m) após períodos de jejum durante o Ramadan.

Logo, a afirmação de que fazer exercício em jejum prejudica o desempenho, parece ser um mito, pelo menos em  em atividades de força e aeróbias com até 2 h de duração.

Para “desmistificar” um pouquinho mais essa afirmação, estudos recentes mostram que treinar em jejum parece ainda otimizar algumas das adaptações ao treinamento aeróbio, levando à maior capacidade oxidativa do músculo, particularmente em relação a oxidação de gordura durante o exercício. Teoricamente, tal resposta deve ser benéfica para o desempenho do atleta, uma vez que ao utilizar mais gordura como fonte energética há maior potencial de preservação de glicogênio muscular. Contudo, os (também poucos) estudos ainda falham em demonstrar melhor desempenho físico após essa prática.

Diante disso, podemos afirmar que fazer exercício apos o jejum overnight não parece ser uma prática miraculosa, tampouco maléfica ou fatal, para praticantes de atividade física. O fato é que muitas pessoas não gostam ou preferem não se alimentar antes de fazer exercício logo pela manhã pois experimentam algum desconforto gastrointestinal afinal, para muitos, não há muito tempo entre o café da manhã e o exercício pela manhã.  Por outro lado, outras pessoas fazem questão de comer “alguma coisinha” antes do exercício. Logo, o ideal é que essa escolha seja feita de acordo com a preferência e tolerância de cada um! 

Você pode ler este texto na íntegra aqui